E te contaram que eu estava mal. Tão doente, que era penoso olhar para mim, tão doente que não se podia me ver sem querer gritar ou chorar. Mas você queria constatar com seus próprios olhos, o que te aterrorizou, pois minha doença, mesmo que não fosse física, era desesperadoramente real...
Minha enfermidade era como um grito colérico que não podia ser proferido. E eu estava tão possuída por esta raiva desolada, tão seduzida pelo som do inferno que tilintava em meus ouvidos, que não pude perceber que a minha dor, aquela imensa dor que me cegava e fazia querer gritar, era causada pelo punhal que você enterrou em meu peito, e ele estava sempre lá, independendo de você estar presente.
Mesmo assim, você quis me ver, você quis olhar dentro dos meus olhos e sentir o meu riso uma vez mais, mas tudo o que você encontrou foram olhos aterradoramente vazios e um riso irônico e zombeteiro que te irritava. Mas o que te enraiveceu mesmo, que te fez odiar-me, foi a constatação de que você não mais podia se enxergar dentro dos meus olhos, de que você não mais existia naquela vácuo que se tornara a minha alma.
Meu olhar não mais te refletia, meu olhar não mais refletia coisa alguma, por Deus, você se perguntava, onde estaria a minha alma? Mas o meu riso agudo te respondia claramente que ela não mais existia, não aquela alma que você amara, ela estava perdida para sempre, e o que vivia naquele corpo inerte era apenas uma sombra dos infinitos cacos em que ela se partira.
Eu me tornara um demônio que se lamuriava e sentia a dor de sua vida perdida, e você nada mais podia fazer para reparar o mal que causara. E eu apenas podia rir disso, com todo o prazer que me era possível sentir.
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