sábado, abril 03, 2010

Aniversário?


Às vezes eu não sei se tornei alguns medos banais inerentes à minha personalidade, mas é difícil admitir algumas coisas, apesar de ser necessário fazê-lo ainda é difícil, mesmo que eu jure tentar...
Hoje faz exatamente 1 ano. Isso é muito tempo?
Faz 1 ano que houve algo que me deixou uma cicatriz imensa, e em meio aos meus devaneios, muitas vezes eu me considero extremamente fútil em engrandecer isto, em alimentar isto, em deixar que isto me marque, em permitir certos medos e anseios conseqüentes disto.
Mas agora eu me pego pensando que aproximadamente nesta hora eu poderia ter morrido 1 ano atrás, que talvez eu tenha tido muita sorte, ou que talvez exista um plano já traçado e a minha hora não era aquela.
Mas, L., o que diabos te aconteceu no dia 3 de Abril de 2009?
Oras, digamos que um caminhão resolveu que era prudente estar acima do limite de velocidade e passar por cima do meu carro parado numa faixa de pedestres, fazendo com que meu carro fosse atirado uns 300 metros pra fora da pista, e veja lá, que ele quase saísse na via de sentido contrário...
Sabe, eu já dirigia há 2 anos e sempre amei dirigir. Dirigir era meio que um dos meus escapes dessa vidinha que eu insisto em levar, um dos meus momentos preferidos do dia e que me trazia um conforto realmente considerável. Eu não ligava pra trânsito intenso, congestionamento ou o diabo, a unica coisa que realmente importava era o quão melhor eu me sentia quando estava ao volante, com o som tocando "a pain that i'm used to" e o vento na minha cara (e foda-se se isso bagunça o cabelo).
Então, infelizmente isso tudo foi violado exatamente no dia 3 de Abril de 2009 às 18:15, quando eu vi que não estava segura como pensava, quando eu vi que se machucar era extremamente fácil e que no meio da angústia, você só tem a você mesmo.
O mais engraçado, é que 2 dias antes dessa merda me acontecer, eu escrevi um post aqui onde eu falava: "Eu quero gritar, porra". E eu realmente gritei muito 2 dias depois, talvez o post tenha sido uma previsão, ou então o acidente foi a maneira que eu encontrei de realizar a minha vontade antes expressada...
E então eu tive um dia 'normal' naquela Sexta-Feira, eu acordei cedo e fui pra uma deliciosa (e entediante) aula de Cálculo 1 na UnB (eu costumava cursar Engenharia ano passado, mas isso não vem ao caso agora), não lembro se almocei em casa ou no restaurante barato com meus amigos, e de tarde tive mais uma aula chata que acabou bem mais cedo do que deveria, e era Sexta, teoricamente o dia de diversão, nós não tínhamos nada para fazer e o hábito de jogar poker em qualquer janela que tivéssemos na grade horária.
Assim, eu passei a tarde daquela Sexta jogando poker na praça de alimentação de um shopping, fazendo piadas idiotas, rindo e bebendo uma coca-cola sem gás. Sabe, aquele dia foi realmente bem divertido, tirando que o Marcelo era sempre quem ganhava todas as minhas fichas, mas tudo bem...
Quando faltavam uns 15 minutos para as 18h, eu me despedi e fui buscar meu irmão na escola, quase bati o carro quando estava saindo do shopping, será que foi um sinal? Mas não bati e estava na escola do meu irmão na hora certa, e peguei o caminho habitual para casa, não parei numa faixa de pedestres onde deveria ter parado (outro sinal? ou será carma?) e o farol que sempre fica vermelho para mim, esse dia estava verde.
Sabe, eu tenho pavor de pensar no que NÃO teria acontecido se eu tivesse perdido 5 minutos enrolada em alguma coisa, porque quando eu penso, eu não consigo parar, e eu tenho medo de perder um pouquinho da sanidade às vezes quando penso sobre o tempo e sua (não) linearidade...
E finalmente, eu estava há mais ou menos 1km de casa, dava até para ver a cerca viva que eu amo, quando um ônibus que estava na faixa da direita parou na faixa de pedestres para uma velha passar, e eu que estava na faixa do meio, conseqüentemente tive que parar também, não queria atropelá-la.
Sabe aqueles momentos que parecem passar em câmera lenta? Foi o que aconteceu em seguida, quando eu direcionei minha mão para ligar o pisca-alerta do carro, e nesse mesmo segundo eu congelei olhando no retrovisor, porque eu vi a porra de um caminhão vindo, e vindo MUITO rápido, e a unica coisa que eu consegui pensar foi "puta que pariu, ele não vai parar" ao mesmo tempo que tive a absurda idéia de arrancar o carro dali numa vã tentativa de sair do meio, mas a velha ainda se encontrava na frente do meu carro, e eu realmente não queria atropelá-la!
Meu irmão diz que ouviu barulho de freios, mas essa memória auditiva se perdeu para mim, eu lembro apenas de gritar muito e gritar alto enquanto o meu carro adquiria uma rapidez absurda mesmo que meu pé ainda estivesse ali pressionando o freio, e de sentir algo tentando esmagar a minha perna, quando com um baque o carro parou, e eu acredito que ele só parou porque o meio-fio que encontrou era muito alto, senão eu realmente não faço idéia do que seria de mim.
E mesmo com o carro parado, eu só conseguia chorar, estava desnorteada e apavorada demais, e não conseguia encontrar meu celular que voou do porta-objetos para algum lugar fora do carro, e acabei ligando no telefone de casa a cobrar, do celular de um estranho (que não era tão estranho, ele conhecia meu pai, pelo visto), e quase matei a minha mãe de susto quando ela atendeu e eu ainda estava chorando sem conseguir formular frases decentes para explicar a merda onde eu havia me metido...
Então, como eu falei, alguma coisa tentou esmagar minha perna direita, não fraturou nenhum osso, mas machucou todas as camadas de tecido até lá, e na hora eu não conseguia pisar direito no chão e estava com muita dor no estômago, então acabou que eu fui parar no hospital, levada de ambulância (olha que eu conheço gente que sonha em andar de ambulância!) por um bombeiro simpático que tentava me acalmar e não conseguia!
Terminei o dia lá no hospital, meio que em pavor, vendo a minha segurança desmoronar ante meus olhos, e sendo atendida por uns 10 estudantes de Medicina, curiosos sobre a situação que eu acabara de passar, e até ri quando um deles perguntou para o meu irmão (que não tinha um arranhão) se ele havia sido arremessado para fora do carro...
Enfim, o que eu ganhei com isso tudo foi uma perna e um pé inteiramente roxos, pois segundo o médico que me atendeu, eu tive uma "pequena" hemorragia no local pressionado e o sangue estava se espalhando pelo local e escorrendo (oi, Newton e a gravidade) para o meu pé, muita dor no corpo durante 1 semana, piada entre meus amigos e fama na faculdade (ela é a guria que deu PT no caminhão...), QUATRO meses sem carro, muito estresse, e um monte de medos e inseguranças que insistem em estar presentes até hoje, 1 ano depois.
E o pior, é que eu sei que talvez esses medos e inseguranças permaneçam para sempre, que nem as cicatrizes, mas eu realmente preciso (e admito aqui e agora) dar um jeito de melhorar um pouco isso, superar pelo menos um pouquinho talvez me faria bem...
Apesar de que escrever talvez alivie um pouco, um pouquinho que seja, mas o trauma insiste em ficar.

Ps.: Para o deleite de alguns, a minha situação foi extremamente similar à esta.



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